14.2.07

Cuba para os... cubanos?

Vejam se a confusão está apenas deste lado do monitor: “Ser cubano é sinônimo de ser republicano. Quando digo às pessoas que sou democrata, pensam que sou comunista. Temos um presidente republicano e tivemos um Congresso também republicano por anos. O que mudou?”, pergunta a ativista Susana Betancourt, presidente do Comitê Democrata Hispânico de Miami, na Folha de São Paulo desta terça (13).

A reportagem trata da preferência eleitoral de exilados cubanos nos Estados Unidos pelo partido de Bush. Segundo levantamento, sete em cada oito expatriados da Ilha, agora residentes no sul da Flórida, ajudaram a eleger o presidente americano em 2000.

São aproximadamente 800 mil cubanos só na área de Miami, onde a nossa amiga ativista é minoria. Democrata, naturalizada americana, hispânica e comunista (?!/sic), Susana flutua numa espécie de limbo do imaginário expatriado.

Insatisfeitos com as estatizações realizadas por Fidel, os cubanos bem de vida do regime de Fulgencio Batista deixaram a ilha antes de 1980, às barbas (com trocadilho) da Revolução. Correram como pivetes da Cinelândia, deixando para trás dinheiro, jóias, automóveis, adegas, mansões, pousadas, hotéis. Pelas suas contas, Fidel não duraria um ano no poder.

Quarenta e oito anos depois, esta “velha guarda” recebe a brisa morna dos recifes da Flórida nos cabelos brancos enquanto agita, uma em cada mão, bandeiras cubanas e americanas. Sai às ruas de Pequeña Habana, em Miami, e exige uma política mais dura contra o regime castrista e a manutenção do embargo entre uma tacada e outra no mini-golfe. Vejam: a “velha guarda” cubana carrega as marcas da revolução para o mini-golfe.

Postura diferente a dos que chegaram aos Estados Unidos após 80. Estes defendem a flexibilização das leis americanas em relação à Havana. Entre elas, a liberdade de viajarem a turismo para a ilha. As novas gerações têm saudade da terra natal. Desejam “visitar” Cuba como um carioca visita o Porcão em Nova York.

E que raios a nossa ativista Susana tem a ver com a lingüiça que se assa em Nova York? Tem tudo a ver. Qual a relação entre o jovem Democrata ser confundido com “comunista” na América? Toda, tem toda relação. A própria personagem da Folha amarra a resposta com uma pergunta: o que mudou com os Republicanos no poder?

Concebida sem prazo de validade, a guerra do Iraque e a conseqüente baixa popularidade de Bush deixaram lacunas. Com o fracasso da investida, uma parte da população desacreditou do discurso Republicano para abraçar o Democrata. Os “comunistas-ativistas” da nova geração dispensaram a farda verde-oliva e hoje depilam a face com presto-barba do Wal-Mart. Mas, mesmo nascidos em ventres expatriados, sentem falta de casa. Querem sentir Cuba, querem cheirar Cuba, querem babar seus pileques em Cuba. Com ou sem "el Comandante".

Na corrida à sucessão presidencial americana de 2008, os candidatos de ambos os partidos apontarão –espera-se- novos rumos para a ocupação no Oriente Médio, assim como seus planos para o regime cubano quando Fidel abotoar o paletó de madeira. Enquanto isso, Cuba está mais para os americanos do que para os cubanos.


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